Paulo Castagna envia convite para comemoração dos 40 anos do Museu da Música de Mariana, MG. Professor do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista, Paulo Castagna é pesquisador de reconhecida competência técnica e artística da música antiga brasileira, séculos XVIII e XIX, tendo se dedicado ao riquíssimo acervo da música religiosa mineira deste período. Foi coordenador musicológico do valioso projeto Acervo da Música Brasileira - Restauração e Difusão de Partituras da Fundação Cultural da Arquidiocese de Mariana, MG., responsável pela publicação de nove volumes de partituras e nove CD´s, disponibilizados na página www.mmmariana.com.br Recebeu do governo de Minas Gerais a Medalha da InconfidênciaAlém disso, é para mim um amigo precioso.
PIANOMUSICI - Nesta página tratamos de música, folclore, história da música, aspectos da cultura seja ela erudita, popular-folclórica, popular de massa ou tribal. Divulgamos livros, concertos, filmes etc Divide-se em três colunas: na central,os temas principais; à esquerda, uma concessão à afetividade (meio cafona... assim mesmo),a galeria da família; à direita, a agenda de divulgação de eventos. Convido os amigos a participarem, enviando textos, para serem postados.souzaniomar@uol.com.br
quinta-feira, 27 de junho de 2013
Comemoração dos 40 anos do Museu da Música de Mariana, MG.
Convite para
os eventos comemorativos dos 40 anos do Museu da Música de Mariana (MG), que
serão realizados nessa cidade nos dias 6 e 7 de julho próximos.
O Museu
da Música foi a primeira instituição criada especificamente para reunir e
preservar manuscritos musicais brasileiros, de maneira ainda informal na década
de 1960, mas oficializado em 6 de julho de 1973 pelo então Arcebispo de
Mariana, Dom Oscar de Oliveira. Centro do maior projeto conjunto de edição e
gravação de música antiga brasileira (o Projeto Acervo da Música Brasileira,
patrocinado pela Petrobras entre 2001-2003), o Museu da Música de Mariana vem
desenvolvendo vários projetos musicológicos, artísticos e sociais, e recebeu, do
Programa Memória do Mundo da UNESCO, em 2 de dezembro de 2011, o Registro
Regional para a América Latina e o Caribe (MOWLAC), tornando-se, assim, a
primeira instituição brasileira do gênero com esse tipo de distinção.
domingo, 23 de junho de 2013
De Carlos Drumond de Andrade a Ludwig van Beethoven
BEETHOVEN
Carlos
Drumond de Andrade (1973)
Meu caro Luís, o que vens fazer nesta hora
de antemúsica pelo mundo afora?
Patética, heroica, pastoral ou trágica,
tua voz é sempre um grito modulado,
um caminho lunar conduzindo à alegria.
Ao não rumor tiraste a percepção mais íntima
Do coração da terra que era o teu.
Urso- maior uivando a solidão
Aberta em cântico: entre mulheres
passando sem amor. Meu rude Luís,
tua imagem assusta na parede,
em medalhão soturno sobre o piano.
Que tempestade passou em ti e continua
a devastar-te no limite
em que a própria morte se socorre
da vida, e reinstala
o homem na fatalidade de ser homem?
Nós, os surdos, não captamos
o amor doado em sinfonia, a paz
em allegro enérgico sobre o caos,
que nos oferta do fundo
de teu mundo clausurado.
Nós, computadores, não programamos
a exaltação romântica filtrada
em sonatino adágio murmurante.
Nós, guerreiros nucleares, não isolamos
o núcleo de paixão de onde se espraia
pela praia infinita essa abstrata
superação do tempo e do destino
que é a razão de viver, razão florente
e grave
Tanto mais liberto quanto mais
em tua concha não acústica cerrado,
livre da corte, da contingência, do
barroco,
erguendo o sentimento à culminância
da divina explosão que purifica
o resíduo mortal, a angústia mísera,
que vens fazer, do longe de dois séculos,
escuro Luís, Luís
luminoso,
em nosso tempo de compromisso e omisso?
Do fogo em que te queimaste,
uma faísca resta para incendiar
corações maconhados, sonolentos,
servos da alienação e da aparência?
Quem comporá a Apassionata do nosso
tempo,
Quem removerá as cinzas, despertará a brasa,
Quem reinventará o amor, as penas do amor,
quem sacudirá os homens do seu torpor?
Boto no pickup o teu mar de música,
nele me afogo acima das estrelas.
(Revista OSESP, nº 3, maio, 2013)
Estudo de Kloeber para retrato de Beethoven
A descoberta deste poema lindo e significativo sobre Beethoven, ou
melhor, dirigido a Beethoven, por Carlos Drumond de Andrade, me deu um
desejo enorme de falar um pouco sobre o tema: meu compositor predileto e meu
poeta predileto. Encontrei-o na Revista
OSESP, nº 3, de 2013.
Este genial poema de
Carlos Drumond de Andrade constitui uma análise delicada e ao mesmo tempo
profunda do pensamento e da postura de
Beethoven diante da contingência de sua vida, que ele extravasa por meio da
música, colocando nela a razão de resistir e viver, de pertencer a um mundo hostil porém feito de
seres humanos que ele considerava fraternos.
Por isso mesmo, os difíceis caminhos deveriam conduzir à alegria. O exemplo é explícito na Nona Sinfonia, uma das obras máximas da
criação humana em música, cuja escrita foi feita quando o compositor
contabilizava total e absoluta perda de audição e, mergulhado no mais profundo
silêncio, ouvia os sons dentro da cabeça
e do coração, como afirmou. Pois bem, a Nona Sinfonia é extensa e complexa, uma
síntese da essência da visão de mundo de Beethoven, com seus quatro movimentos
que percorrem caminhos difíceis mas termina com o grande movimento coral que canta a Ode à Alegria, do poema homônimo
do poeta alemão Schiller. É um hino à alegria e à fraternidade universal. Esta
peça é considerada o Hino da Humanidade e, não por acaso, foi escolhida como hino da Comunidade Europeia.
Quando foi estreada em 1824, em Viena, o compositor, no palco, de costas
para o público não conseguiu ouvir sequer os aplausos entusiásticos. Só se deu conta quando uma cantora do coro chamou-lhe a atenção. “ Em toda a história da música nenhum músico,
com uma convicção tão profunda, terá concebido sua obra como uma doação e uma
missão a serviço de toda a humanidade.” (Jean & Brigitte Massin, História
da Música Ocidental)
O lema da Revolução
Francesa era o paradigma da vida de Beethoven: Liberdade, Igualdade e
Fraternidade.
No
poema, metáforas e simbolismos misturam a semântica da música com a ética e a
estética de Beethoven, envolvem fatos da
sua vida (os desamores, a cruel surdez)
e o trazem muito naturalmente à modernidade ( computadores, maconheiros, pickup)
coroando a genialidade do, como não poderia deixar de ser, Carlos Drumond de Andrade, O
poeta. Uma possível interpretação:
BEETHOVEN
Carlos Drumond de
Andrade.
Meu caro Luís, o que vens fazer
nesta hora
de antemúsica pelo mundo afora?
Patética,
heroica, pastoral ou trágica,
(referência às obras: Sonata Patética, Sinfonia Heroica e
Sinfonia Patética)
tua
voz é sempre um grito modulado,
um
caminho lunar conduzindo à alegria.
(Sonata ao Luar e o coro da Ode à
Alegria)
Ao
não rumor tiraste a percepção mais
íntima
Do
coração da terra que era o teu.
(não rumor: a surdez)
Urso-
maior uivando a solidão
(foi chamado de urso pelo temperamento
irascível, no fim da vida)
Aberta em cântico: entre mulheres
passando sem amor. Meu rude Luís,
(sem amor: teve vários amores mas não
conseguiu realizar nenhum)
tua imagem assusta na parede,
em medalhão soturno sobre o piano.
(Imagem severa e angustiada em quadros e
bustos colocados tradicionalmente sobre o piano)
Que
tempestade passou em ti e continua
a
devastar-te no limite
( sonata chamada de A Tempestade)
em que a própria morte se socorre
da
vida, e reinstala
o homem na fatalidade de ser homem?
(menção ao Testamento de Heiligenstad
onde Beethoven revela que esteve à beira do suicídio devido à surdez mas foi
salvo pela arte. “Ah, parecia-me impossível deixar o mundo antes de ter dado
tudo o que ainda germinava em mim!”)
Nós,
os surdos, não captamos
o amor doado em sinfonia, a paz
em allegro enérgico sobre o caos,
(sinfonia, forma orquestral; allegro,
indicação de andamento na música)
que nos oferta do fundo
de teu mundo clausurado.
(Mundo clausurado: ausência total de
sons)
Nós,
computadores, não programamos
a
exaltação romântica filtrada
(estilo romântico da sua obra)
em sonatino adágio murmurante.
(Sonatino, de sonatina, forma musical;
adágio, indicação de andamento)
Nós,
guerreiros nucleares, não isolamos
o núcleo de paixão de onde se espraia
pela praia infinita essa abstrata
superação do tempo e do destino
que
é a razão de viver, razão florente
e
grave
Tanto
mais liberto quanto mais
em tua concha não acústica cerrado
livre
da corte, da contingência, do barroco,
erguendo o sentimento à culminância
(A surdez, concha não acústica, isenta-o
de seguir estilos como barroco, e gostos da corte elegendo o sentimento o bem
mais alto)
da divina explosão que purifica
o resíduo mortal, a angústia mísera,
que vens fazer, do longe de dois séculos,
escuro Luís,
Luís luminoso,
em
nosso tempo de compromisso e omisso?
Do
fogo em que te queimaste,
uma faísca resta para incendiar
corações maconhados, sonolentos,
servos da alienação e da aparência?
Quem
comporá a Apassionata do nosso tempo,
( Sonata Apassionata, uma das obras mais
famosa)
Quem removerá as cinzas, despertará a brasa,
Quem reinventará o amor, as penas do amor,
(as penas do amor: sofrimento pelos
amores frustrados)
quem sacudirá os homens do seu torpor?
Boto
no pickup o teu mar de música,
nele
me afogo acima das estrelas.
LUDWIG VAN BEETHOVEN
(Bonn, 1770-Viena, 1827)
“No mundo da
arte, como em tudo que diz respeito à criação, o objetivo é a
liberdade e a força de ir sempre mais além”- Beethoven
Creio que todos os amigos sabem da paixão que tenho por Beethoven, sua música, seus ideais de liberdade, fraternidade universal... por isso, quero falar sobre ele, aqui.
4 de Julho de 1776 – Independência dos
Estados Unidos;
14 de julho de 1789 – em Paris, a
multidão enfurecida ataca a fortaleza da Bastilha, liberta 7 prisioneiros e
desfila pelas ruas exibindo as cabeças dos guardas assassinados espetadas em
paus. 3 anos depois é proclamada a
República da França e o exército dos cidadãos cerra fileiras ao som da
nova canção patriótica a Marselhesa.
Luís XVI e Maria Antonieta são guilhotinados e um obscuro tenente da
artilharia, Napoleão Bonaparte começa a preparar-se para ascender ao poder;1792 – George Washington é presidente dos Estados Unidos.
Haydn está no auge da fama e o corpo de
Mozart jaz numa campa de indigentes no
cemitério de Viena.
Este
contexto histórico é lembrado por Claude Palisca e Donald Grout (História da música ocidental)
Em 1787, um jovem músico alemão de nome
flamengo ( pelo avô) é enviado a Viena para estudar com Mozart. Tem 17 anos e
chama-se Ludwig. van Beethoven. A permanência é curta pois sua mãe morre em
Bonn e ele volta para assumir a família ( 2 irmãos). Chegara a tocar para
Mozart que lhe profetizara um futuro brilhante.
Beethoven recebera a primeira formação
musical – insatisfatória- do pai, cantor da capela de Bonn. Sua infância fora
infeliz: o pai, alcólatra e brutal pretendera transformá-lo em menino prodígio,
a exemplo de Mozart. Tirava-o da cama de madrugada para exibi-lo aos amigos ao
regressar da taverna. Mesmo assim teve um grande mestre, Neef, e freqüentou a
Universidade como ouvinte. Tocava
órgão, cravo, violino, viola, violeta; era exímio improvisador
Aos 12 anos acompanhava no cravo a orquestra da ópera
de Bonn, substituindo seu professor. Era protegido do Príncipe Eleitor (o
Arcebispo) Max Franz. Aos 14 anos foi
nomeado oficialmente organista-assistente da Corte de Bonn. Aos 18 anos tocava violeta na orquestra da
ópera. Aos 21 anos tinha prestígio excepcional junto à nobreza de Bonn.Em 1792, aos 22 anos, chega outra vez a Viena, com carta de seu protetor, Conde de Waldstein, o já compositor e pianista Beethoven (viajara 800km de carruagem por uma semana). Haydn estivera em Bonn, ouvira composições de Beethoven e recomendara ao Arcebispo que o enviasse à Viena para estudos mais aprofundados. Não se sabe ao certo o que B. aprendeu com Haydn mas as lições continuaram até 1794, quando este foi para Londres e B. teve outros professores, inclusive Salieri.
Pouco mais de 10 anos após ter chegado à Viena, Beethoven é conhecido em toda a Europa como o maior pianista e compositor para piano do seu tempo e como compositor de sinfonias à altura de Mozart e Haydn. Tinha prestígio na sociedade, freqüentava as mais nobres famílias, tinha mecenas generosos mas não se curvava para receber favores; mantinha sua independência e tratava-os com certa rudeza. Procurava não escrever música por encomenda. Escrevia para um público ideal, universal, como uma expressão de si mesmo, de sua individualidade e sua época histórica.
Beethoven começou a atuar em um momento da maior
importância histórica: novas e poderosas forças que começavam a se manifestar
na sociedade o afetaram profundamente e repercutiram em sua obra. Tal como Napoleão ou Goethe, viveu as gigantescas
convulsões que vinham se fermentando ao longo do séc. XVIII e que finalmente eclodiram
com a revolução francesa.
Historicamente, a obra de Beethoven é construída no
estilo clássico mas as circunstâncias
externas e a força criativa do seu gênio inquieto levaram-no a transformar essa
herança e avançar para características
fundamentais do período romântico.
Beethoven desenvolveu sua obra na atmosfera do
movimento literário do pré-romantismo alemão, de 1770 a 1790, inspirado nas
idéias de Rousseau ( o homem nasce livre; todo homem é igual na a natureza) que
os alemães chamavam de Sturm und drang ( Tempestade e Paixão ou Impulso): culto à natureza, libertação do indivíduo,
primazia do gênio, da emoção, da sensibilidade;
reação contra o racionalismo e o classicismo.
Mas acontece uma tragédia que faz de Beethoven um
solitário. Desde os 28 anos apresenta perturbações auditivas. Aos 31/32 anos dá-se conta que está ficando
surdo. Esta surdez, o mais terrível dos males para um músico, vai se agravando
até que aos 50 anos, 1820, mergulha em silêncio total. Não percebe mais som
algum.
Aos 32 anos, aterrado com a idéia de que possam
perceber sua enfermidade. escreve uma carta aos irmãos, descoberta após sua
morte, que ficou conhecida como Testamento de Heiligenstadt para ser lida
depois que morresse. Nela relata de maneira comovente o seu sofrimento que
chegou a lhe inspirar o suicídio.
Personalidade
Intransigente, detestava mentira e hipocrisia; idealismo
absoluto sem concessões; comportamento selvagem ao mesmo tempo generoso, fiel,
humanitário, fraternal
Obra - o humanismo
da Revolução Francesa é o substrato ideológico da sua obra.
-Novidade
de concepção e força de pensamento;
-o pensamento movia-se num plano tão elevado
que sentia dificuldade de fazer música para
libreto de ópera porque tratava de pequenos atos, situações corriqueiras;
-
modificação da linguagem e das formas tradicionais;
-forma
sonata tomou proporções inéditas ( multiplicidade de temas; desenvolvimentos
longos e complexos; longas codas;
dissimulação das linhas divisórias entre as partes dos andamentos, andamento scherzo)
-idéias
de caráter dinâmico e impetuoso que brincam com as estruturas simétricas do
classicismo
-1ª vez
que se usa trombone em sinfonia- na Quinta
- exploração
intencional dos temas e motivos até o limite de suas potencialidades
1ª Fase – até 1802 (32 anos) –
clássico. Assimila a linguagem do seu tempo e vai descobrindo a sua própria:
Quartetos de cordas op. 18, 10 primeiras sonatas p/ piano(até op.
14), as 2 primeiras sinfonias.
2ª Fase - 32 / 45 anos – independência, inovações,
rupturas, elementos românticos. Sinfonias 3ª a 8ª, ópera Fidélio, aberturas, 2
concertos p/ piano e o conc. p/ violino, quartetos op. 59 ( Razumowisky),
sonatas p/ piano até op. 90. (Período tranqüilo, próspero, mús muito
tocada, aplausos até no estrangeiro,
mecenas generosos, encomendas dos editores, finanças favoráveis.)3ª Fase - cerca de 1816 em diante – 45/56 anos – a surdez que o fazia perder o contato com os sons e o mundo ao seu redor, tornava-o cada vez mais fechado e taciturno, irascível, desconfiado; tinha problemas com o sobrinho. Com o silêncio, volta-se para a concentração e o mundo interior onde só as notas existiam. As composições tomam um caráter cada vez mais abstrato, a linguagem cada. vez mais concentrada. Nas últimas obras explora temas e motivos até a última potencialidade; dá efeito de continuidade obscurecendo linhas divisórias. A feição abstrata, universal, manifesta-se no recurso ao contraponto, criação de efeitos invulgares, invenção de novas sonoridades.
As derradeiras obras: as cinco últimas sonatas, Variações Diabelli, Missa Solemnis, últimos quartetos, Nona Sinfonia – são a culminância da genialidade, da perfeição, do ideal estético, do belo musical; obras criadas no silêncio profundo da mente do autor ao qual era negada a percepção de qualquer mínimo resquício de som.
O coral da Nona Sinfonia revela os ideais éticos de Beethoven: a liberdade e a fraternidade universal do homem, tendo como base a alegria do amor de um pai celestial.
Só raros contemporâneos compreenderam
suas últimas obras. Discute-se o
romantismo de Beethoven. O componente revolucionário, o espírito livre, impulsivo, misterioso,
demoníaco, a música como expressão pessoal, fascinaram a geração romântica.
“A
música de Beethoven aciona a alavanca do
medo, do espanto, do horror, do sofrimento e desperta um anseio infinito que é
a essência do romantismo” ( T. A. Hoffman)
Beethoven foi o gênio mais disruptivo da História da
Música. Ele criou um mundo novo. Após
ele, nada mais pode ser como antes.
“A
força dessa música interior encoraja as virtudes mais altas. Faria andar um paralítico e transformaria em
herói ou santo o mais abominável malfeitor.
A música de Beethoven desperta
sentimentos de justiça e liberdade tão profundos ... que os ditadores
deviam desconfiar dela. Na época trágica do domínio nazí, o simples ritmo do princípio
da 5ª Sinfonia: UUU -- percutido nos tímbales significava para os
ouvintes clandestinos da BBC a revolta e a esperança. Quanto à Nona Sinfonia - é o hino da nossa civilização. (Roland de
Candé)
___________________________________
Foi editado agora em 2010, pela Zahar, com tradução de Anna Hartmann Cavalcanti, o
livro Beethoven escrito em 1870 por Richard Wagner, cuja capa ilustra
este texto. O grande compositor homenageou Beethoven, a quem admirava, no
centenário de seu nascimento. É um livro de caráter intrinsecamente estético
com três abordagens principais na primeira das quais fica explícita a influência
que Wagner sofreu de Schopenhauer para quem a música expressa a sabedoria
suprema com uma linguagem incompreensível à razão. O livro explica a diferença
entre as outras artes e a música: as primeiras são do domínio da bela
aparência; a música é essência, arte sublime que pode despertar o êxtase do
ilimitado. A segunda abordagem mostra, sobretudo , que para Beethoven não
importava tanto mudar as formas mas sim expressar um novo mundo ao revelar ao mundo exterior seu próprio mundo
interior. Em terceiro lugar, enaltece a relevância da música para a
transformação do mundo moderno e da civilização alemã. Beethoven, por meio de
sua música, desempenha o papel de redentor da cultura alemã e um dos grandes benfeitores da humanidade.
Assinar:
Postagens (Atom)