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sábado, 31 de julho de 2010

Falando de Folclore

Na história do homem, em todos os tempos, a necessidade de resposta a problemas e situações gera uma busca de conhecimentos naturalmente subordinados ao contexto ambiental e social. Na aquisição desses conhecimentos, criam-se códigos e símbolos que constituem cultura e identificam uma sociedade. O que caracteriza a sociedade são os interesses e necessidades comuns compartilhados e suas soluções. Na construção da cultura, são fundamentais as relações de família, grupos sociais, meio ambiente, conhecimentos adquiridos, crenças, trabalho e produção, estudo, economia, política e outros. Estas categorias são interdependentes e inter-influentes e responsáveis pela feição própria de uma cultura. E neste contexto sócio-cultural do qual somos agentes, recebendo e produzindo cultura, é que formamos a nossa identidade.

Folclore é uma das formas de representar, assumir, expressar, imaginar, idealizar, transmitir a identidade de uma sociedade, uma região, uma nação.

“Folclore é constituído pelos saberes populares selecionados como elementos valiosos e identificadores de cada povo. As diversidades regionais marcam as características predominantes; indicam os padrões culturais aceitos pela maioria dos componentes do grupo social; mostram as habilidades desenvolvidas, as soluções criadas para resolver seus problemas; evidenciam a adaptação ao meio ambiente e as razões que determinam este ou aquele modo de vida. Situam a comunidade no tempo e no espaço; apresentam as contribuições étnicas recebidas, numa interação natural. ”

Esta formulação, devemos à Professora da UFRS, Dra. Rose Marie Agrifoglio( Para compreender e aplicar folclore na escola, 2000, p.8)
. Com Rossini Tavares de Lima, aprendemos a acrescentar uma palavra importante na definição de folclore: espontânea. Folclore é a cultura espontânea em uma sociedade letrada. É uma cultura intrínseca à natureza humana, empírica, articulada ao contexto social do seu local de ação e criação e revestida das especificidades: aceitação/difusão na interação social.

Segundo Renato Almeida:

“São modos de pensar, sentir e agir que determinam o comportamento dos grupos onde se perpetuam. São fatos vivos e em perpétua transformação, ligados ao passado, adaptando-se continuamente ao presente e cumprindo sempre o seu destino de atender a necessidades mágicas, religiosas, artísticas, econômicas, médico-sociais, lúdicas, etc., dos seus portadores. Seu caráter é persistir, modifica-se sem cessar, faz empréstimos e trocas,
ajusta-se, transmuda-se para sobreviver e traz consigo resíduos imemoriais das forças
primitivas, terror, magia, superstição, em cujo meio se precipitam essências imanentes
da sabedoria humana. ” ( Inteligência do folclore,1974, p. 43))

O Folclore- disciplina independente- pertence ao campo das ciências sociais. Tendo em vista uma ação permanente de interpretação de fenômenos, comumente tem uma postura interdisciplinar em suas análises. Por isso, identifica-se com metodologias das ciências antropológicas como a Antropologia Cultural ou Etnologia, a Etnografia, e articula-se diretamente com a Sociologia; vale-se também da História, da Geografia, da Psicologia, Economia, Arte, hoje inclui também a Política, e outras pertinentes a temas específicos.

A UNESCO em sua Recomendação Sobre a Salvaguarda do Folclore diz textualmente: “...folclore faz parte do legado universal da humanidade e é um poderoso meio de aproximação entre os povos e grupos sociais existentes e de afirmação de sua identidade cultural.” Daí sua importância social, econômica, cultural, política e seu papel na história dos povos; e também o seu lugar na cultura contemporânea.

sábado, 24 de julho de 2010

MOZART

"Enquanto escrevia esta página, caíram muitas lágrimas sobre a folha. Mas, neste momento, o que está acontecendo? Oh, que alegria! À minha volta vejo voar uma quantidade de pequenos beijos ! Ah! Peguei três; serão famosos! "

Isto escreveu Mozart em outubro de 1790, para Constanze, sua mulher que estava ausente.

Acabei de ler o livro Mozart por trás da Máscara, de Lincoln R. Maiztegui Casas (Editora Planeta, 2006). O autor explica o motivo da obra: ira e revolta pelo filme Amadeus, de Milos Forman, baseado na obra de Peter Schaffer, "...história tão absurda, inverossímel, mentirosa e ofensiva, uma agressão infundada ao músico mais genial de todos os tempos."(p. 11) Fala nos milhões de espectadores que viram o filme e associaram a imagem de Mozart a uma criança ridícula e boba com uma risada histérica. Com base em fontes documentais e uma série de biografias sérias, inclusive nas cartas de Mozart, o autor demonstra a inconsistência do perfil limitante e vislumbra o verdadeiro Mozart por trás da máscara: homem inteligente, de cultura superior a dos músicos da época, vontade imperiosa, consciente da sua grandeza, preocupado com os problemas do seu tempo. Foi o porta voz da libertação dos músicos até então relegados à condição servil. Evoluiu do catolicismo conservador aos princípios revolucionários da maçonaria e teve coragem de compor A Flauta Mágica, ópera simbolicamente maçônica, no momento em que a maçonaria começava a ser alvo de severa repressão. No último ano de vida trabalhou acima dos limites de resistência física, simulando otimismo e bom humor, ocultando da esposa o estado debilitado de saúde, na tentativa de superar os problemas financeiros.
Quando morreu, pessoas paravam na frente do seu apartamento acenando lenços brancos; no dia seguinte, uma multidão desfilou diante do corpo.
O enterro em vala comum não foi por extrema pobreza e sim porque era o lugar indicado para se enterrar os músicos, oficialmente considerados criados. Com excessão daqueles que pudessem adquirir seu próprio jazigo mas o custo era muito alto.
Desmitificando a história de Mozart, diz o autor Lincoln Casas: "Este livro é um ato de amor"