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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Determinantes históricas no percurso dos Pastorís





Determinantes históricas no percurso do Pastoril

É quase certo que as primeiras representações de Natal tenham surgido no início do século X, com o monge Tuotilo, morto em abril de 915, na abadia de Saint Gallo, centro germânico de difusão dos tropos.
Desde fins do século IX havia preocupação da Igreja com a participação dos fiéis nos mistérios cristãos, o que deu origem a cenas curtas, dialogadas, intercaladas na liturgia. Eram os tropos que surgiram na mesma época em Sankt Gallen, Saint-Martial de Limoges e, possivelmente em Fleury, tornando-se os núcleos dos dramas litúrgicos de que procede grande parte do teatro europeu, principalmente a ópera.
O Tropo de Natal, de Tuotilo, é o documento mais antigo do gênero. A elaboração dialogada pedia ação dramática. Os próprios clérigos disfarçados atuavam como personagens. Os minúsculos autos sacramentais ocorriam diante do altar, antes de começar a missa. Os temas eram a Natividade e a Páscoa. Com o tempo, desenvolveram-se até alcançar extensão de verdadeiros espetáculos, com os nomes de mistérios e milagres a princípio em íntimo contato com o culto e modesta participação do povo. Esta participação vai aparecer mais na representação da Paixão de Cristo, espetáculo que passa do altar à praça pública em verdadeira festa popular. À medida que passava o tempo, as execuções tornavam-se mais suntuosas e acentuava-se a influência leiga que iria culminar nos autos religiosos do início do Renascimento.
Os pequenos dramas de Natal desenvolveram-se rapidamente por todo o ocidente europeu e seu percurso foi, em linhas gerais, Alemanha, França, Península Ibérica. Uma das primeiras representações dramáticas do Pastoril em Portugal deveu-se a Gil Vicente com a apresentação, em 1523, do Auto Pastoril Castellano, escrito em espanhol. Juan Del Encina, dramaturgo, poeta e músico espanhol do século XV, escreveu os primeiros autos hieráticos na Península Ibérica e seus personagens eram pastores e cantavam vilancicos. Com os portugueses, o Pastoril veio para o Brasil e foi adaptado à nossa cultura.
No Brasil, os autos sobre a Natividade ocorrem principalmente no Nordeste, onde podem ser encontrados sob duas formas: o Presépio, nos moldes das Pastorinhas, no palco, e o Pastoril, nas ruas, de jornadas soltas, uma versão do primeiro porém com exclusão dos diálogos e acréscimo de entreatos e danças religiosas ou profanas; em alguns lugares podem ser deturpados, com textos licenciosos, trajes e gestos audaciosos.
Mas existem, em quase todas as regiões do Brasil, com muitas variantes, como as Companhias de Pastores, em Minas Gerais; Pastoria do Menino Jesus, em São Paulo; Baile Pastoril, na Bahia; Presépio, em Alagoas; Pastorinhas no Rio de Janeiro, Goiás e Espírito Santo.
Escreveram sobre Pastoril, entre outros: Mário de Andrade, em Danças Dramáticas do Brasil; Theo Brandão, em Pastoril; Câmara Cascudo, em Dicionário do Folclore Brasileiro; Renato Almeida, em História da Música Brasileira, 2 ed. Sobre tropos, Roland de Candé, em História Universal da Música.

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